quinta-feira, 7 de abril de 2011

POR UM FUTURO MAIS SÓBRIO

         
Dados divulgados em fevereiro deste ano pela Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam que o consumo de álcool no Brasil é 50% maior que a média no mundo. Segundo o mesmo dado, 320 mil jovens entre 15 e 29 anos morrem ao redor do mundo, todos os anos, em virtude do uso do álcool e a iniciação do uso de bebidas alcoólicas está acontecendo cada vez mais cedo. De gole em gole a bebida vem se transformando em caso de saúde pública. 

            Um dos fatores decisivos para o crescente aumento desses dados estatísticos é a falta de estrutura familiar. Pude presenciar várias vezes no meu ofício de professor essa situação onde pais não respeitam filhos e filhos não respeitam pais. Uma infância que quer amadurecer precocemente, muitas vezes com a legitimação dos próprios responsáveis. Presenciei um exemplo disso na semana passada em uma pizzaria da cidade, onde se encontravam completamente sozinhas 15 crianças que não tinham mais de 13 anos, em um horário que ultrapassava as 23 horas. Gritavam, falavam alto, faziam a maior algazarra em uma mesa, parecendo totalmente independentes. Os pais só apareceram mais tarde apenas para buscá-las, sem tomar conhecimento do péssimo comportamento de seus filhos naquele ambiente. O que esperar dessa juventude em um futuro próximo?

            Outra “pólvora” nessa explosiva combinação de jovens e álcool é o excesso de publicidade de bebidas alcoólicas que, quando não apresentam mulheres lindas e exuberantes, deixam uma mensagem “engraçada” de que tudo é válido, até mesmo colocar a sua vida em risco para salvar a sua “indefesa cervejinha”. Ademais, atletas, treinadores e artistas, que deveriam promover exemplos de vida saudável, acabam associando suas imagens às marcas de cervejas, faturando uma boa grana e não se preocupando com as sérias consequências para a nossa sociedade. Um verdadeiro absurdo para alguém que na sua família tenha ou teve algum problema relacionado ao álcool. O que é mostrado como engraçado, muitas vezes acaba tornando-se trágico.

                                                                                                               
                             Publicidade da Skol "Um por todos. Todos por uma."
            
           
A revista Visão Jurídica deste mês traz em sua matéria de capa o tema da impunidade ocorrida nos crimes de trânsito decorridos do uso de bebidas alcoólicas.  Abordando, evidentemente, o aspecto jurídico, a publicação informa que, embora a Lei Seca (Lei n. 11.705/2008) seja severa em seu teor, ela mostra-se cada dia mais ineficaz e sem efeito prático. Isso porque os motoristas irresponsáveis que cometem as barbaridades no trânsito causando tragédias, mutilações e ceifando vidas sustentam o argumento de que a presente lei é inconstitucional, uma vez que ofende a Constituição Federal, que consagra o princípio de que ninguém pode ser obrigado a fazer prova contra si mesmo, fazendo referência ao direito de se absterem de realizar o teste do bafômetro ou qualquer outro teste que registre a presença de álcool no organismo. Dessa forma, vários jovens “monstroristas” acabam impunes, distorcendo totalmente o sentido de justiça. Parece que o slogan do “se beber, não dirija” acaba sendo o “se beber, dirija. A justiça está ao seu lado”.

            Por isso é de suma importância o acompanhamento dos pais na vida social dos seus filhos. A velha máxima continua prevalecendo: educação começa em casa. Saber com quem anda, para onde vai e o que faz, de jeito algum deve ser considerado invasão de privacidade. Isso é orientar e prevenir seus filhos de futuros problemas. Um simples churrasquinho com os amigos pode ser um caminho sem volta. A família, portanto, trava uma luta constante contra a indústria de bebidas alcoólicas. Se olharmos ao nosso redor com atenção, percebermos que em nossa cidade, todos os shows e eventos destinados aos jovens têm sempre o patrocínio de uma empresa de bebidas alcoólicas. É uma disputa muito covarde, o que faz o papel dos pais mais importante ainda.

            Fica a mensagem: para ser alegre e curtir não é necessário se enganar com o uso dessa droga lícita que é a bebida. Precisamos de cidadãos sóbrios para que uma futura geração esteja preservada e assim, quem sabe, poderemos mudar os trágicos dados que nos são até então conferidos.

                                             
                                         Programa "A Liga" 29/03/2011

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