sábado, 29 de outubro de 2011

O MEC ENSINA COMO SER INCOMPETENTE

           Novamente, e pelo terceiro ano consecutivo, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) vê-se em meio a polêmicas envolvendo a lisura deste certame. Demonstra-se claramente que o Ministério da Educação (MEC) não possui as mínimas condições para promover um exame de grandes proporções e que mereceria o mínimo de atenção em todas as etapas para a sua execução. O Enem perdeu totalmente a credibilidade, virando, inclusive motivo de chacotas. Todo ano especula-se qual será o erro no próximo Enem, para a infelicidade de milhares de estudantes e de seus familiares que acompanham todos os sacrifícios que são feitos na luta pela conquista de uma vaga nas instituições públicas superiores.

            Acompanhando o desenrolar do fato acontecido no Enem de 2011, percebo que uma grande parte da imprensa tem centralizado o foco no Colégio Christus de Fortaleza, como se ele fosse o único responsável pelo desastre do exame. Pior: o ministro da educação Fernando Haddad culpa os professores da escola citada como os responsáveis pelo fato de terem vazado as questões que constavam no exame deste ano. Fácil. Arrumaram um bode expiatório para não assumirem os seus erros (novamente) neste ano. Além disso, o correto seria anular as questões que são idênticas e não penalizar os mais de seiscentos alunos do colégio Christus, uma vez que o erro não foi deles, e sim da própria organização do concurso.

            Enquanto professor, minha experiência no processo avaliativo levou-me a, além de elaborar as minhas próprias questões, utilizar questões de outros concursos anteriores, exercícios em sites especializados, procurando, dessa forma, familiarizar o meu aluno com níveis de questões que se aproximem da  realidade que são encontradas nos diversos concursos a que serão submetidos. Possuía o cuidado, também, de NÃO REPETIR AS MESMAS QUESTÕES QUE JÁ TIVESSEM SIDO RESPONDIDAS PELOS ALUNOS. Dessa forma, tinha o trabalho de elaborar questões inéditas para evitar qualquer tipo de comentário do tipo: “ele facilitou, colocou as mesmas questões do exercício anterior”. Isso é o básico em nossa profissão. No caso do Enem, das duas uma: ou o banco de questões do instituto responsável pela elaboração da prova é limitadíssimo, ou foram, no mínimo, preguiçosos ou até mesmo ingênuos, ao ponto de considerar que as questões do pré-teste seriam invioláveis. E olha que o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) foi contratado junto ao MEC pelo valor de R$238,5 milhões com a função de elaborar e executar o Enem 2011. Muito dinheiro para muita incompetência.




              Para mim, uma coisa está clara: a ideia do Enem é excelente, mas como já foi provado e comprovado em três anos consecutivos, o MEC não possui a mínima estrutura para realizar um exame desse porte em nosso país. Portanto, o Enem não deve ser mais o modelo de acesso ao ensino superior. Se quiser permanecer como uma mera avaliação do ensino médio, pode até continuar, mas a sociedade não merece todo ano ter que conviver com justificativas ridículas e o pior, arrumar bodes expiatórios para os seus erros. Está na hora dos reitores das universidades que adotam o Enem repensarem na forma de acesso às vagas de nível superior e pararem de fazer conchavos políticos com o governo federal. Que retorne o antigo vestibular onde cada universidade era responsável por organizar o seu certame. Precisamos dar um basta! MEC, aprenda: errar uma vez é humano; duas vezes é coincidência; três vezes é incompetência.

                                                            Enem: uma avaliação sem credibilidade

8 comentários:

  1. É exatamente isso que eu acho. Adorei o texto.

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  2. Ótimo texto, concordo com vc!
    Ainda bem que já passei por essa penitência de ter que fazer o ENEM para o ingresso na rede pública, enfim.
    Tem mt coisa pra melhorar ainda :/

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  3. Prezado Prof. Arthur, não concordo com sua opinião neste post que, com todo respeito, ele não acrescenta informações sobre o processo do ENEM. Se me permite, gostaria de dar algumas informações.

    Primeiro, para entender o ENEM é preciso compreender o processo estatístico que o embasa, que é usado em outros sistemas de avaliação no Brasil e no exterior, o TRI – Teoria de Resposta ao Item. Essa teoria ela procura fazer uma análise “qualitativa” a partir de resultados “quantitativos”. E funciona muito bem, quando o analisamos. Funciona assim, mais ou menos, quando nós, professores, valorizamos metade de uma questão de um aluno, por ele acertar uma parte. Portanto, até mesmo o tipo de alternativa que o estudante marca no certame é possível fazer uma interpretação do que sabe, se sabe e o quanto sabe.

    Para existir o TRI é necessário fazer o pré-teste, sistema completamente diferente de outros concursos e vestibulares. Essa fase do processo é feita com o sorteio de algumas escolas pelo país, são aplicadas as provas e imediatamente retirada da mão de todos, a final TODOS assinam um termo de sigilo. Os itens voltam para o MEC e é feita uma avaliação de cada item, estatística e pedagogicamente. O item aprovado entra para BNI – Banco Nacional de Itens – e os que não representaram bem a partir da TRI, retirado.

    Sendo assim, a universidade ou faculdade que assumir o ENEM como processo de entrada dos seus alunos em sua instituição entende que o sistema é esse e que pode ser muito mais significativo que métodos tradicionais de vestibular. Aderir é facultativo. O processo analisa como nosso aluno sai do Ensino Médio, quais habilidades tem expertise e até mesmo o que tem errado. Dados fundamentais para serem discutidos em reuniões pedagógicas ou para a criação de políticas públicas educacionais.

    Provas nacionais existem em vários países para fazer tais análises e não temos apenas o ENEM no INEP com esse sistema. Temos a Prova Brasil que teve várias oficinas pelo Brasil, convidando professores para participarem do BNI. Muitos participaram e atualizam o banco até hoje. Porém, todos assumem o sigilo e sabem, contratualmente, que não podem, de forma alguma, aplicar tais questões em sala de aula, por exemplo.

    Agora porque o ENEM causa tanta confusão e a Prova Brasil, não? Simples, existe um grupo de empresários totalmente contra o processo que é muito mais democrático, acabando de vez com a máquina de cursinhos que existe no país. Temos, por exemplo, aqui em São Paulo empresas que não dormem só de pensar que a USP possa aceitar o ENEM em seu processo de integração a instituição. Portanto, os professores, em todas as suas aulas, falam mal do ENEM, do primeiro ao último dia. Depois SP saí mal nos resultados da prova e dizem aqui a escola é fraca, na verdade, os alunos não têm o mínimo interesse em fazer.
    (continua)

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  4. O MEC não é incompetente, sem ética é o professor, sim. Ou a escola ou quem mais deixou o mesmo copiar a prova. E se ele aplicou aos alunos, ele fura completamente o que ele mesmo se comprometeu a fazer. Pensemos assim, não são alguns itens que os alunos viram, houve um pré-teste de todas as questões da prova em todo Brasil, portanto todos foram éticos de não fazer o mesmo que o professor do CE que, ele sim, errou. Ele está seriamente encalacrado e a Polícia Federal está em cima.

    Claro que poderíamos discutir coisas como: será que os processos de vestibular – que sugere que volte – são realmente limpos. Processos de vazamento de questões, cópia da prova, professor sem ética que participa da banca e depois vai dar aula em cursinho, etc, etc sempre aconteceram. Até mesmo em Concurso Público acontece. Basta entrar no Google e uma rápida pesquisa é possível ver sim. E o ENEM causa essa comoção toda por simples motivos: as pessoas não entendem o processo e querem esvaziar a importância do processo no nosso ensino. Mesmo que concorde que ele deve ser feito com lisura e, nesse caso, quem não agiu assim foi o professor. Ele não é bode expiatório, ele deve assumir seus atos, quando se propôs a participar do processo.

    Descordo, completamente da sua tese de voltar o vestibular. Sou professor há mais de vinte anos e sempre lutamos por uma prova que não avaliasse apenas conteúdo desconexos da realidade. Já participei de inúmeras discussões e lutas sobre isso. Veja, a avaliação do ENEM desde 1998 vem crescendo e é um processo vindo do MEC para as instituições, ou seja, o que sempre lutamos que houvesse, pois sempre reclamávamos de um ensino mais significativo no país, mas esbarrávamos sempre nos tradicionais vestibulares. Precisamos apenas não cair nas manipulações jornalísticas ou de grupos que querem derrubar o processo que é muito mais democrático, sim. E voltarmos a propiciar o Ensino Superior público apenas para poucos alunos que tem condição de estudar em escolas ou cursinhos de grife. Eu não quero mais isso! Sinto como se defendesse que deveríamos fechar o Congresso Nacional e voltar o AI-5, já que temos tanta corrupção no país.

    Espero ter contribuído com seus leitores.

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  5. Caro Arthur,

    acredito que o ENEM deva ser realmente reavaliado.
    É um concurso de enormes dimensões, tanto em número de inscritos, quanto em números de cidades onde são realizadas as provas.
    Uma prova para esta amplitude, exige do instituto elaborador não apenas estudos para elaborar as questões, mas também preocupação com logística para impressão, distribuição e realização da mesma.
    Concordo com o professor Celso sobre a culpa do professor, pois exigia-se sigilo para tal processo e este foi violado. Discordo entretanto que o ENEM muda a forma de ensinar, o foco das escolas.
    Percebo que o que ocorreu foi a inclusão do foco para o ENEM, tendo-se em vista que várias instituições não usam a referida prova para seus processos seletivos;
    Agora o "professor show" dos cursinhos famosos e com altos índices de aprovação vão incluir em suas "dicas milagrosas" lembretes sobre como passar no ENEM, no vestibular desta ou daquela universidade.
    A mudança no ensino depende do interesse das escolas em ampliarem o ensino para a construção de um conhecimento que ajudem seus alunos a serem o que quiserem ser, mas conscientes de suas escolas.
    Enquanto isso, vemos alunos focarem seus estudos para apenas entrar em uma universidade, seja através de ENEM, ou vestibular.

    Arthur e Celso, cabe a nós, professores, fazermos a nossa parte.

    Marília Barreto

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  6. O MEC exige até a cor e o número do lápis para o aluno fazer o Enem. Porém, a presidente do Inep disse que não tem como evitar fraudes internas. Essas exigências que o MEC faz aos alunos que prestam o Enem, acaba sendo um pouco demagogo. Uma vez que as piores fraudes são orquestradas internamente. Falho sistema do MEC!!

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  7. "Que retorne o antigo vestibular onde cada universidade era responsável por organizar o seu certame. Precisamos dar um basta! MEC, aprenda: errar uma vez é humano; duas vezes é coincidência; três vezes é incompetência."

    Quando nem existia inscrições online,nunca houve problemas nos vestibulares!A gente se inscrevia nos Correios e eu não me lembro de haver vazamento de questões das provas.

    Me parece que,com o passar dos anos,as coisas,ao invés de melhorarem,só pioram!

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  8. Algumas verdades sobre o ENEM: a escola do Ceará não vazou as questões, foi o INEP que expôs as questões e cometeu a burrice de usá-las. Pior é não reconhecer o erro, querendo anular as provas apenas dos alunos de lá. Comete dois erros: acreditar que a prova não foi compartilhada com outros alunos (já se sabe que foi) e aplicar prova diferente para concorrer às mesmas vagas (fere o princípio da isonomia). O custo total do ENEM vai pela casa dos 180 milhões. Esse custo não existia, pois o vestibular das federais é lucrativo com as inscrições. As federais tem os melhores cursos. Os professores formados pela rede federal vão trabalhar na rede privada. Por quê? Porque as escolas estaduais e municipais pagam mal e tem condições precárias. Logo, não atraem os melhores professores. Já pensaram se investissem o dinheiro do ENEM num plano de carreira para professores e em infra-estrutura? Isso melhoraria sim a qualidade. Por que não fazer com que as escolas estaduais e municipais atinjam o nível das federais (colégio militares e de aplicação, que também são públicos, e muito bons)? Melhorando a escola pública, promove-se a inclusão de quem não tem acesso às vagas. Não se faz isso facilitando a prova ou enganando. O custo do ENEM é justificado para se ter uma prova igual em todo país. Isso elimina a questão regional (história, geo, literatura), tudo para promover a mobilidade acadêmica. Partem do pressuposto que o aluno pobre concorre a várias universidades sem gastar inscrição, deslocamento, hospedagem. Só que o aluno pobre não consegue morar longe da família, se mudar para estudar, e nem é isso que acontece. Na UFCSPA (Fundação) das 88 vagas da MED em 2010, apenas 17 são gaúchos. Por quê? Porque o ENEM, em vez de promover a mobilidade dos necessitados, está promovendo exportação de alunos de SP e do RJ, das melhores escolas. O ENEM é contra o conteúdo. A prova vem para eliminar quem investe nele, para ajudar quem apenas raciocina. Só que, em POA, por exemplo, a escola privada que ficou em 1º é a mais conteudista, de ensino mais tradicional. A intenção do ENEM erra por todos os lados. Se o ENEM virar única forma de ingresso, as escolas vão ensinar ENEM, piorando o já precário conteúdo ensinado, a cultura, a leitura. Já estão para transformar o currículo das escolas públicas de acordo com o ENEM. Começam pelo lado errado: os professores se formam na universidade em licenciatura em Letras, Física, Matemática, Química, História Geografia, mas vão para a escola e assumem a disciplina, por exemplo, de "Linguagens, códigos e suas tecnologias", ou "Ciências da natureza". Estão perdidos, não sabem o que ensinar. Se é para haver essa mudança (e não é), não deveriam começar pela mudança na formação dos professores? Conclusão: o MEC está jogando fora uma fortuna, obtendo resultado inverso do esperado, estragando a educação e o ensino, ajudando quem não precisa. Mudança em educação leva tempo e investimento em qualidade. Nenhuma prova promove inclusão. Como explicar isso tudo à sociedade? Flávio Azevedo-professor

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