segunda-feira, 14 de novembro de 2011

REBELIÃO NA USP: SIMPLES REBELDES CANÁBICOS

Historicamente, o confronto entre estudantes universitários e aqueles que têm a obrigação de manter a ordem do Estado a todo custo, sejam policiais ou forças armadas, contribuíram, de certa forma, para que fossem feitas diversas análises, reflexões e mudanças políticas que ocasionaram a conquista de vários direitos ao redor do mundo. Disso não há duvida. E eu, que achava repetitivo o discurso, na minha época de estudante universitário, entoado através do lema: “lutar por uma universidade pública, gratuita e de qualidade”. Poderia até ser repetitivo, mas eles tinham lá os seus motivos. Além disso, aqueles que lutavam em passeatas, discursos em cima de caminhões ou mesmo em cima de uma cadeira no refeitório, estavam de cara limpa, e não encapuzados como se fossem bandidos.

Assim como inúmeras associações e instituições, o movimento estudantil no Brasil traz no bojo de sua história uma busca por um conceito maior em seu discurso. Por isso, poderia não ser compreendido, mas possuía um respeito por ser sólido, combativo e contextualizado. A luta do movimento estudantil sensibilizava não só aos estudantes, mas à boa parte da sociedade.

As mudanças ocorridas em nosso país, como a estabilização da economia e um amadurecimento da democracia, fizeram com que os estudantes de hoje não tenham noção do que seja uma inflação incontrolável, uma desvalorização da moeda e viver em um governo ditatorial. Hoje o que vemos são discursos vazios. Motivos vazios. Estão mais preocupados em defender as suas “liberdades canábicas” e consumirem todo tipo de drogas sem a intervenção do estado, como se o espaço universitário fosse um ambiente no qual tudo é permitido, uma verdadeira terra sem leis. Com certeza essa lição não foi vista em livros de Karl Marx, Saint-Simon, Vamireh Chacon e tantos outros.

Mesmo com uma melhoria de nossa economia e a consolidação democrática, percebemos que estamos longe de sermos um país justo socialmente. Fato este comprovado através dos inúmeros desmandos que ocorrem todos os dias e estampam os noticiários. Pergunto-me se não existe realmente nada em São Paulo ou no Brasil para ser questionado, para que se busquem motivos para chamar atenção da sociedade. Será que em pleno século XXI, em um país que rompeu com a ditadura há mais de 26 anos o movimento estudantil continuará sendo a “viúva da ditadura”? Com tantos casos de corrupção, suspeitas de superfaturamento em obras públicas, uso de dinheiro público em construção de estádios, péssimos serviços de saúde, segurança e educação, tudo isso e muito mais são causas de menor importância frente à prisão de jovens que cometeram um crime pelo uso de maconha na maior instituição universitária do país? E o pior é que esse tipo de comportamento sobre “a liberdade do uso da maconha” virou o centro das discussões nas universidades. Recentemente, alunos da Pontifícia Universidade Católica (PUC), realizaram protestos porque o seu 1º Festival de Cultura Canábica não foi realizado.  Desde quando a maconha deixou de ser uma droga ilícita? Tenha santa paciência!



Para encerrar, relatarei um fato ocorrido durante a manifestação canábica que mais parece uma anedota. Fora noticiado na imprensa sobre o sumiço de um estudante/meliante. A denúncia foi feita pelo pai do “universitário rebelde” (diretor da União Nacional dos Estudantes) que afirmou que seu filho estava desaparecido. Segundo ele, já tinha procurado pelo filho por toda a parte e aproveitou para fazer um apelo: “O que mais desejo nesse momento é ver o sorriso do meu filho! Torçam por ele! Torçam por mim!”. Foram feitas ligações para as autoridades governamentais, mobilizou-se a Comissão de Direitos Humanos. Onde estaria o “universitário rebelde”? Em um porão sendo torturado em um pau-de-arara? Levando choque em uma cadeira elétrica? Sofrendo humilhações de toda sorte por um torturador? Não. Simplesmente o “universitário rebelde” estava na casa da mãe há mais de dois dias. Quem sabe estava assistindo toda a confusão pela televisão, vendo Mtv e fumando um baseado. Conclusão: o típico representante dessa parcela mimada de “jovens-canábicos-rebeldes.”

OBS: Deixo a música do grupo Ultraje a Rigor que fez muito sucesso nos anos 80, mas que a letra cabe perfeitamente aos “rebeldes/meliantes” da USP de 2011: Rebelde sem Causa.



Um comentário:

  1. Os pontos dos quais mais gostei no seu texto foram:

    "Poderia ser até ser repetitivo, mas eles tinham lá os seus motivos. Além disso, aqueles que lutavam em passeatas, discursos em cima de caminhões ou mesmo em cima de uma cadeira no refeitório, estavam de cara limpa, e não encapuzados como se fossem bandidos."

    "As mudanças ocorridas em nosso país, como a estabilização da economia e um amadurecimento da democracia, fizeram com que os estudantes de hoje não tenham noção do que seja uma inflação incontrolável, uma desvalorização da moeda e viver em um governo ditatorial. Hoje o que vemos são discursos vazios. Motivos vazios. Estão mais preocupados em defender as suas “liberdades canábicas” e consumirem todo tipo de drogas sem a intervenção do estado, como se o espaço universitário fosse um ambiente no qual tudo é permitido, uma verdadeira terra sem leis."

    "Desde quando a maconha deixou de ser uma droga ilícita? Tenha santa paciência!"


    Respeito quem de fato luta pela legalização da maconha.Essa sim é uma luta com causa,com motivo,com conteúdo! Eles mostram as caras nas passeatas e nos congressos sobre o assunto,muito diferente desses bandidos/estudantes da USP.Ótimo texto!

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