segunda-feira, 24 de outubro de 2011

UM PRESENTE (DE GREGO) PARA MANAUS

"Esta obra entrará para os anais e menstruais de Sucupira e do país"
Odorico Paraguaçu – Prefeito de Sucupira

                                                                                                                

            Comemorando os seus 342 de história, Manaus hoje é palco de uma festa que inaugura a tão propalada e por diversas vezes protelada ponte sobre o Rio Negro. A capital do Amazonas enfrenta problemas seríssimos na saúde, educação e mobilidade urbana e ao mesmo tempo vê-se envolta em gastos astronômicos para construção desta ponte, com o custo de mais de 1 bilhão de reais. Imagine quem e por quanto tempo irá se pagar por esse empreendimento.

Manaus merecia mais dos nossos representantes políticos. Uma cidade privilegiada do ponto de vista geográfico, com belezas naturais incomparáveis, uma gastronomia de deixar qualquer um com água na boca e um potencial econômico que chegou a ser citado pela revista America Economia, que classificou Manaus com uma das 50 melhores cidades da América Latina para se fazer negócios. Mas ao contrário das necessidades mais urgentes que a nossa cidade possui, Manaus hoje recebe como presente a inauguração da “ponte do bilhão” (como ficou conhecida nas redes sociais) que liga a capital do Amazonas ao município de Iranduba com a presença da presidenta Dilma, do ex-presidente Lula, centenas de políticos e adoradores dos mesmos. Uma festa de fazer inveja ao prefeito da cidade fictícia (será?) de Sucupira, Odorico Paraguaçu, da novela O Bem Amado. Uma obra faraônica em terra de Ajuricaba. Os defensores dessa construção dizem que o escoamento da produção será facilitado, além de promover uma maior integração entre o interior e a capital do estado. Ao contrário disso, percebo que é uma obra totalmente fora de contexto e de propósito, em virtude do que o povo de Manaus e do Amazonas com um todo necessita para poder ter um presente e um futuro mais digno. Para uma população que clama por educação, saúde e dignidade para viver, o dinheiro aplicado na ponte sobre o Rio Negro torna-se uma verdadeira aberração.


                                                                Ponte do Bilhão


Enquanto isso, nossos representantes políticos continuam pedindo – com pires na mão – para que os incentivos fiscais da Zona Franca sejam prorrogados e, assim, continuamos perplexos por não encontrarem da mesma forma uma alternativa para não ficarmos dependendo apenas de favores do governo federal. Manaus um dia já vivenciou a chamada Belle Époque (auge do ciclo da borracha no qual existiu uma profunda transformação urbanística e arquitetônica) e foi a primeira cidade do país a utilizar luz elétrica, bem como a ter o primeiro centro universitário. É de fácil constatação, olhando para a nossa historia, que temos muito potencial. O que falta é vontade política. Precisamos afastar a imagem de Sucupira que insiste em querer nos acompanhar durante os últimos anos.

Mesmo com todos os problemas, deixo os meus parabéns a esta cidade onde nasci, cresci e vivo na esperança de dias melhores.

OBS: Como homenagem a Manaus insiro um vídeo com a bela letra e música do compositor Torrinho, intitulada “Porto de Lenha”.




Porto de lenha
Tu nunca serás Liverpool (2x)
Com uma cara sardenta
E olhos azuis
Um quarto de flauta
Do alto rio negro
Pra cada sambista, paraquedista
Que sonha o sucesso
Sucesso sulista
Em cada navio
Em cada cruzeiro
Em cada cruzeiro
Das quadrilhas de turistas

8 comentários:

  1. Excelente publicação... me faz refletir sobre o verdadeiro discurso implícito de nossos governantes. O que o Lula está fazendo na inalguração deste presente? e ainda sendo chamado de eterno presidente???

    José Carlos

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  2. O desenvolviemntismo faraônico do período militar (aquele mesmo da ponte rio-Niterói, Maracanã e transamazônica)ainda reina! Reina em nome do capital imobiliário, especulativo e monopolista. Terra,+ expansão urbana + empresas construtoras = sobrelucros.

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  3. Que bom q vc não teve oportunidade de viver no período áureo da borracha e também não tem poder para decidir nada. Senão Manaus não teria Teatro Amazonas, Alfândega,Ponte d ferro da Cachoeirinha e outros.Manaus não precisa d homens sem visão.

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  4. Grata pelo link ao texto acima, Arthur Caldas; compartilhar as informações nas redes sociais amplia a reflexão sobre o tema.

    Uma pergunta: de quem é a autoria da fotografia em destaque? Poderia indicá-la, por favor.

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  5. Parabéns para Manaus e seu povo!

    A ponte do bilhão equivaleria à Cidade da Música,obra superfaturada realizada pelo então prefeito na época,o Sr. Cesar Maia,que até hoje nunca inaugurou! Mas é assim mesmo,em qualquer lugar do Brasil enfrentamos esse tipo de problema.

    Parabéns pelo texto!

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  6. Cheguei nesse blog por um acaso! Através de comentários em outros blogs...
    Parabéns pelo post! Mas preciso tecer alguns comentários sobre a Ponte e desenvolvimento.
    Meu nobre causídico e historiador! Com certeza, deve trazer em sua bagagem intelectual, grande conhecimento da miséria e falta de oportunidades do povo do interior.
    De certo que viver em um escritório ou em foros de justiça nos faz trazer pensamentos peneninos sobre o que se passa ao nosso redor.
    O pequeno produtor (aquele que mal sabe ler) lá no município de Iranduba, e que jamais terá oportunidade de vida, precisa alimentar sua família certo?
    Os grandes empresários locais da rede de supermercado por exemplo, trazem - isso mesmo, importam - legumes e frutas de outros Estados! Legal não é?
    O produtor do interior tem a mercadoria, faz a mão de obra, mas não tem como trazer para Manaus e distribuir entre os municípios. E o empresário não tem como incetivar isso pois saía mais caro trazer do interior, do que lá de outro Estado.
    A verdade é que o discurso de que ao invés da Ponte, fazendo-se Hospital e Escola (como exemplo), após a inauguração seria um tiro na arrecadação do Estado! Como o Estado MANTERIA isso? Teria que ser repartido o orçamento de outros seguimentos para cobrir a despesa mensal desses empreendimentos. Não daria certo!
    Com essa ponte, o desenvolvimento virá de forma obrigatória! De uma forma ou de outra, o futuro chegará para o interior do Estado, mas não para o seu gabinete de atendimento.
    Meu nobre, o discurso de que a Ponte de 1 Bilhão não irá trazer futuro, é demasiadamente imbecil! Sim, 1 bilhão é um absurdo... Mas pra isso existem vários orgãos para se apurar isso (MPF, Legislativo, Executivo). Um dia algo aparecerá e os culpados serão punidos (assim espero).
    Mas, dizer que contruir escolas e hospitais traria futuro para a população pobre, é BESTEIRA! Não se desenvolve nada sem oportunidade!!!
    Reflita...

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  7. Caro Arthur,
    leia no @estadao ou no blog do Gabeira a matéria escrita por ele sobre a ponte do Bilhão. Pelo fato das críticas virem de vários estados, muitos amazonenses interpretaram como inveja do sul/sudeste,desconhecimento da região com se pensássemos que no amazonas só tem índios etc.. Quando o objetivo foi exatamente mostrar q a relação custo/benefício foi altamente desfavorável p/ o estado e p/ a população, mas EXCELENTE p/os CORRUPTOS!
    abraços fraternos!
    Gilda - RJ

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  8. Tenho orgulho de ter tido a oportunidade quando ainda menino de compartilhar de seus ensinamento! E hoje é com grande satisfacao que vejo-o que continuas a fazer o que sempre mais amou. Ensinando-nos !!! Parabens

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