Estamos acompanhando o drama vivido pelos japoneses devido às consequências causadas pelo tsunami desde a última sexta-feira, dia 11. Analisando a história do Japão, percebemos que superação sempre foi o seu lema e que não será nenhuma surpresa se daqui a algum tempo restar apenas a saudade daqueles que partiram. Tenho a absoluta certeza de que, mais uma vez, esta nação irá dar a volta por cima e contornar toda esta tragédia que se abateu sobre o seu território.
Aqui no Brasil algumas pessoas encontram-se compadecidas e atônitas com a fúria da natureza que se abate do outro lado do mundo e agradecem a Deus por não habitarem em um local tão propício a tragédias naturais, mas esquecem por um instante que o nosso tsunami é outro, é crônico e que invade as mídias de nosso país praticamente toda semana. Também é responsável por destruição de vidas, por enriquecimentos ilícitos e pela manutenção de vícios que permeiam a vida dos brasileiros há séculos. Nosso tsunami tem nome: corrupção.
Pergunto-me até quando ainda iremos sofrer com alardes de superfaturamentos, de mensalões, mensalinhos, desvio de verbas e até quando o nosso Código Penal será desrespeitado, e escutaremos que “tudo irá acabar em pizza”.
O descrédito com os políticos e com a justiça só aumenta. São vergonhosos os exemplos daqueles que deveriam zelar pelo dinheiro público e pela aplicação do nosso ordenamento jurídico.
Recentemente dois exemplos de mau uso do dinheiro público foram expostos em nível nacional. O primeiro, da deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF), filha de Joaquim Roriz, um dos políticos mais tradicionais do Distrito Federal, tendo sido governador por quatro mandatos e que possui inúmeras acusações de indícios de superfaturamentos, formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva e que nas últimas eleições para o governo do estado desistiu da candidatura por medo da lei do “ficha limpa” e colocou na fogueira a sua esposa Weslian como candidata, a qual foi a protagonista de um dos maiores vexames na história dos debates políticos brasileiros.
O fato foi exposto na edição da revista Istoé desta semana. Um rombo de mais de R$ 430 milhões somente no governo do Distrito Federal, dinheiro que poderia muito bem mudar o destino daqueles que necessitam, por exemplo, da saúde e da educação pública. Sendo assim, o vídeo que mostra a deputada federal recebendo o valor de R$ 50 mil em dinheiro vivo é apenas uma marola em relação ao verdadeiro tsunami que aguarda o bolso do contribuinte. E estamos falando apenas do Distrito Federal. Imaginem a situação dos vinte e seis estados da federação.
Outro exemplo foi divulgado no domingo passado no programa Fantástico da Rede Globo. O início do texto da reportagem traduz bem o episódio: “O Fantástico foi até a periferia de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul para documentar uma situação absurda: um edital que está pronto para ser publicado prevê a instalação de uma lombada eletrônica em uma rua de chão batido, onde só passam carroças e bicicletas e onde galinhas dividem espaço com poucos pedestres. O que está por trás desse escândalo? Corrupção”. Na reportagem podemos perceber de que forma ocorrem as negociatas e a indústria das multas obtidas através de radares eletrônicos. Uma teia de corrupção que fatura R$ 2 bilhões ao ano. Ressalte-se que alguns dos favorecidos são membros do Detran do Rio Grande do Sul. É o público sendo solapado pelo privado.
Retornando ao Japão, ratifico o meu posicionamento: se conseguiu reerguer-se mesmo com uma bomba atômica lançada há 66 anos, não permanecendo sob a sombra daquela destruição que parecia irreparável, não será este episódio que irá impedi-lo de continuar a ser um dos países mais ricos e desenvolvidos do mundo. Lá a coisa pública é tratada com respeito por aqueles que a conduzem, ao contrário do Brasil, onde a situação é ainda mais grave, pois a grande maioria não vê as consequências de imediato. E faz tempo que vivenciamos este ciclo. A corrupção é, no meu entender, o maior entrave para o nosso desenvolvimento e para a melhoria da qualidade de vida dos brasileiros. E é o “nosso tsunami” porque ceifa vidas, sonhos e esperanças, deixando marcas profundas para o futuro.
Desejo apenas que um dia as novas gerações possam viver em um país no qual a maldita corrupção seja, de fato, punida como se deve. E para que isso aconteça, todos nós temos que cumprir com o nosso papel de cidadãos exigindo, cumprindo e fazendo valer nossos direitos e deveres.
"Desejo apenas que um dia as novas gerações possam viver em um país no qual a maldita corrupção seja, de fato, punida como se deve. E para que isso aconteça, todos nós temos que cumprir com o nosso papel de cidadãos exigindo, cumprindo e fazendo valer nossos direitos e deveres."
ResponderExcluirEssa sua última frase foi marcante! Fico pasma em ver as pessoas batendo no peito com orgulho de serem apolíticas! Se o povo brasileiro fosse um pouco "argentino",no que se refere ao engajamento político,muita coisa iria mudar! Mas vivemos num país sob a Lei de Gerson: o povo em geral quer levar vantagem em tudo!
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
ResponderExcluirI - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Gostei do blog, Arthur! Provavelmente me tornarei uma assídua leitora. É um exercício de cidadania propagar ideias como as que li hoje. Sucesso para essa coluna! Abraço grande. Débora Xavier. (Ex-aluna sua no Literatus 2007/2008)
ResponderExcluirConcordo plenamente, Arthur!
ResponderExcluirO grande problema desse país é político. Acho que ainda somos um país muito jovem culturalmente se comparado ao Japão, temos que aprender muito ainda.
A corrupçao nao é um problema politico e sim social, de onde vem o politico? Da sociedade, logo a corrupçao tambem vem da sociedade...
ResponderExcluirÉ a mais pura verdade... o Brasil era para ser o país mais rico do mundo.
ResponderExcluirNão temos terremotos, vulcões, tufões para destruir nossas riquezas, mas temos mals políticos que fazem isso.
Muito bom texto. Infelizmente, um tema sempre atual. Caso conseguíssemos mensurar os males que acompanham a corrupção, veríamos ao compará-los que os efeitos de um tsunami são quase nada. Uma pequena marola. Vamos todos participar para mudarmos essa realidade.
ResponderExcluirArthur, corrupção é tão natural no brasileiro quanto a habilidade com a bola nos pés. Sei que alguns vão criticar essa minha colocação, vão vir com a história que tem muita gente honesta e trabalhadora, blá blá blá... . A verdade é uma só: políticos, administradores públicos e magistrados não caem de Marte. Saem do meio do povo. Muitos dos que criticam, fariam a mesma coisa se estivessem em condiçòes de fazê-lo. A origem do povo brasileiro foi a pior mistura possível : a escória de Portugal, negros trazidos à força e escravizados, índios indolentes e pra dar uma pioradinha, piratas franceses, espanhóis e holandeses. Queriam que saísse o que? Não tenho, sinceramente, a menor esperança neste aglomerado de gente que chamam de povo brsileiro. Esse local que teimam em chamar de "nação" é uma verdadeira brincadeira de mau gosto!
ResponderExcluirMuito Boa tua materia!!
ResponderExcluirA corrupção não é um problema político e sim social, de onde vem o político? Da sociedade, logo a corrupção também vem da sociedade... +1
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