quarta-feira, 16 de março de 2011

“TSUNAMI” NO BRASIL É SINÔNIMO DE CORRUPÇÃO

Estamos acompanhando o drama vivido pelos japoneses devido às consequências causadas pelo tsunami desde a última sexta-feira, dia 11. Analisando a história do Japão, percebemos que superação sempre foi o seu lema e que não será nenhuma surpresa se daqui a algum tempo restar apenas a saudade daqueles que partiram. Tenho a absoluta certeza de que, mais uma vez, esta nação irá dar a volta por cima e contornar toda esta tragédia que se abateu sobre o seu território.

Aqui no Brasil algumas pessoas encontram-se compadecidas e atônitas com a fúria da natureza que se abate do outro lado do mundo e agradecem a Deus por não habitarem em um local tão propício a tragédias naturais, mas esquecem por um instante que o nosso tsunami é outro, é crônico e que invade as mídias de nosso país praticamente toda semana.  Também é responsável por destruição de vidas, por enriquecimentos ilícitos e pela manutenção de vícios que permeiam a vida dos brasileiros há séculos. Nosso tsunami tem nome: corrupção.

Pergunto-me até quando ainda iremos sofrer com alardes de superfaturamentos, de mensalões, mensalinhos, desvio de verbas e até quando o nosso Código Penal será desrespeitado, e escutaremos que “tudo irá acabar em pizza”.

O descrédito com os políticos e com a justiça só aumenta. São vergonhosos os exemplos daqueles que deveriam zelar pelo dinheiro público e pela aplicação do nosso ordenamento jurídico.

Recentemente dois exemplos de mau uso do dinheiro público foram expostos em nível nacional. O primeiro, da deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF), filha de Joaquim Roriz, um dos políticos mais tradicionais do Distrito Federal, tendo sido governador por quatro mandatos e que possui inúmeras acusações de indícios de superfaturamentos, formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva e que nas últimas eleições para o governo do estado desistiu da candidatura por medo da lei do “ficha limpa” e colocou na fogueira a sua esposa Weslian como candidata, a qual foi a protagonista de um dos maiores vexames na história dos debates políticos brasileiros.

O fato foi exposto na edição da revista Istoé desta semana. Um rombo de mais de R$ 430 milhões somente no governo do Distrito Federal, dinheiro que poderia muito bem mudar o destino daqueles que necessitam, por exemplo, da saúde e da educação pública. Sendo assim, o vídeo que mostra a deputada federal recebendo o valor de R$ 50 mil em dinheiro vivo é apenas uma marola em relação ao verdadeiro tsunami que aguarda o bolso do contribuinte. E estamos falando apenas do Distrito Federal. Imaginem a situação dos vinte e seis estados da federação.




Outro exemplo foi divulgado no domingo passado no programa Fantástico da Rede Globo. O início do texto da reportagem traduz bem o episódio: “O Fantástico foi até a periferia de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul para documentar uma situação absurda: um edital que está pronto para ser publicado prevê a instalação de uma lombada eletrônica em uma rua de chão batido, onde só passam carroças e bicicletas e onde galinhas dividem espaço com poucos pedestres. O que está por trás desse escândalo? Corrupção”. Na reportagem podemos perceber de que forma ocorrem as negociatas e a indústria das multas obtidas através de radares eletrônicos. Uma teia de corrupção que fatura R$ 2 bilhões ao ano. Ressalte-se que alguns dos favorecidos são membros do Detran do Rio Grande do Sul. É o público sendo solapado pelo privado.




Retornando ao Japão, ratifico o meu posicionamento: se conseguiu reerguer-se mesmo com uma bomba atômica lançada há 66 anos, não permanecendo sob a sombra daquela destruição que parecia irreparável, não será este episódio que irá impedi-lo de continuar a ser um dos países mais ricos e desenvolvidos do mundo. Lá a coisa pública é tratada com respeito por aqueles que a conduzem, ao contrário do Brasil, onde a situação é ainda mais grave, pois a grande maioria não vê as consequências de imediato. E faz tempo que vivenciamos este ciclo. A corrupção é, no meu entender, o maior entrave para o nosso desenvolvimento e para a melhoria da qualidade de vida dos brasileiros. E é o “nosso tsunami” porque ceifa vidas, sonhos e esperanças, deixando marcas profundas para o futuro.

Desejo apenas que um dia as novas gerações possam viver em um país no qual a maldita corrupção seja, de fato, punida como se deve. E para que isso aconteça, todos nós temos que cumprir com o nosso papel de cidadãos exigindo, cumprindo e fazendo valer nossos direitos e deveres.

10 comentários:

  1. "Desejo apenas que um dia as novas gerações possam viver em um país no qual a maldita corrupção seja, de fato, punida como se deve. E para que isso aconteça, todos nós temos que cumprir com o nosso papel de cidadãos exigindo, cumprindo e fazendo valer nossos direitos e deveres."

    Essa sua última frase foi marcante! Fico pasma em ver as pessoas batendo no peito com orgulho de serem apolíticas! Se o povo brasileiro fosse um pouco "argentino",no que se refere ao engajamento político,muita coisa iria mudar! Mas vivemos num país sob a Lei de Gerson: o povo em geral quer levar vantagem em tudo!

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  2. Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

    I - a soberania;

    II - a cidadania;

    III - a dignidade da pessoa humana;

    IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

    V - o pluralismo político.

    Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

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  3. Gostei do blog, Arthur! Provavelmente me tornarei uma assídua leitora. É um exercício de cidadania propagar ideias como as que li hoje. Sucesso para essa coluna! Abraço grande. Débora Xavier. (Ex-aluna sua no Literatus 2007/2008)

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  4. Concordo plenamente, Arthur!
    O grande problema desse país é político. Acho que ainda somos um país muito jovem culturalmente se comparado ao Japão, temos que aprender muito ainda.

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  5. A corrupçao nao é um problema politico e sim social, de onde vem o politico? Da sociedade, logo a corrupçao tambem vem da sociedade...

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  6. É a mais pura verdade... o Brasil era para ser o país mais rico do mundo.
    Não temos terremotos, vulcões, tufões para destruir nossas riquezas, mas temos mals políticos que fazem isso.

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  7. Muito bom texto. Infelizmente, um tema sempre atual. Caso conseguíssemos mensurar os males que acompanham a corrupção, veríamos ao compará-los que os efeitos de um tsunami são quase nada. Uma pequena marola. Vamos todos participar para mudarmos essa realidade.

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  8. Arthur, corrupção é tão natural no brasileiro quanto a habilidade com a bola nos pés. Sei que alguns vão criticar essa minha colocação, vão vir com a história que tem muita gente honesta e trabalhadora, blá blá blá... . A verdade é uma só: políticos, administradores públicos e magistrados não caem de Marte. Saem do meio do povo. Muitos dos que criticam, fariam a mesma coisa se estivessem em condiçòes de fazê-lo. A origem do povo brasileiro foi a pior mistura possível : a escória de Portugal, negros trazidos à força e escravizados, índios indolentes e pra dar uma pioradinha, piratas franceses, espanhóis e holandeses. Queriam que saísse o que? Não tenho, sinceramente, a menor esperança neste aglomerado de gente que chamam de povo brsileiro. Esse local que teimam em chamar de "nação" é uma verdadeira brincadeira de mau gosto!

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  9. A corrupção não é um problema político e sim social, de onde vem o político? Da sociedade, logo a corrupção também vem da sociedade... +1

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